Operação no Alemão e Penha supera Jacarezinho e se torna a mais letal da história do Rio

Tempo de leitura:

 Operação no Alemão e Penha supera Jacarezinho e se torna a mais letal da história do Rio
Operação no Alemão e Penha supera Jacarezinho e se torna a mais letal da história do Rio

O Rio de Janeiro vive um dos capítulos mais sombrios de sua história na segurança pública. A "Operação Contenção", deflagrada pelas polícias Civil e Militar na última terça-feira, 28 de outubro de 2025, nos Complexos do Alemão e da Penha, Zona Norte da cidade, resultou no maior número de mortes já registrado em uma única ação policial no estado.

Enquanto o governo estadual fala em "sucesso" no combate ao Comando Vermelho (CV) e um baque histórico na facção, a Defensoria Pública e organizações de direitos humanos denunciam a ação como um "massacre". O número de vítimas, que não para de subir, expõe um cenário de guerra e levanta um debate nacional sobre a estratégia de segurança adotada.


O Saldo da Operação: Números em Disputa

Os números oficiais divulgados pelo Governo do Rio de Janeiro na tarde desta quarta-feira (29) são assustadores:

  • 119 mortos: Sendo 115 civis (tratados pela polícia como suspeitos) e 4 policiais.

  • 113 presos: Incluindo 33 de outros estados.

  • 118 armas apreendidas: Sendo 91 fuzis.

  • 14 artefatos explosivos e toneladas de drogas ainda em contabilização.

No entanto, esses números são contestados. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) afirma que o número de mortos já ultrapassa 132 vítimas (128 civis e 4 policiais). A discrepância é explicada, em parte, por relatos de moradores, que afirmam ter retirado cerca de 60 corpos de uma área de mata no Complexo da Penha nesta manhã, os quais não estariam na contagem oficial inicial do governo.

Um Dia de Caos e Retaliação

A megaoperação, que mobilizou 2.500 agentes, 32 blindados e helicópteros, foi justificada como uma ação para "conter a expansão territorial" do Comando Vermelho e cumprir 100 mandados de prisão. A facção criminosa, por sua vez, respondeu com violência extrema, espalhando o caos pela cidade.

Em retaliação, criminosos promoveram ataques em diversos pontos:

  • As principais vias da cidade, como a Linha Amarela e a Avenida Brasil, foram fechadas.

  • Um caminhão da RioLuz e outros veículos foram sequestrados e incendiados.

  • A cidade entrou em "Estágio de Risco de Alto Impacto".

  • Vídeos circularam mostrando o uso de drones tanto pelas forças policiais quanto pelos criminosos, que foram flagrados arremessando bombas.

Reações e Controvérsias: "Sucesso" vs. "Chacina"

A repercussão da operação expõe a profunda divisão sobre o tema:

Posição do Governo: O governador Cláudio Castro defendeu veementemente a ação. Em coletiva, afirmou que a operação foi "um sucesso" e "o maior baque que o Comando Vermelho já tomou". Castro gerou polêmica ao declarar que "as únicas vítimas que registramos ontem foram os policiais". O Secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, classificou a ação como "legítima".

Denúncias de Direitos Humanos: Do outro lado, ativistas e moradores denunciam um "massacre". O jornal comunitário Voz das Comunidades divulgou imagens de casas destruídas e moradores relatando violações de direitos. A Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal já anunciou que pedirá esclarecimentos ao governo do Rio. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que acompanha os desdobramentos e enviou técnicos ao Instituto Médico Legal (IML) para realizar perícias.

Conclusão: O Debate sobre a ADPF 635

A operação, já considerada a mais letal da história, supera a do Jacarezinho, que deixou 28 mortos em 2021. O evento trágico reacende o debate sobre a ADPF 635, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs restrições a operações policiais em favelas do Rio durante a pandemia.

Enquanto a cidade tenta retornar à normalidade e os familiares buscam reconhecer os corpos, o Rio de Janeiro se vê novamente no centro de uma crise de segurança, com um saldo de mortes recorde e poucas respostas sobre o futuro.


: